É impressionante a capacidade de alguns governantes de não ficarem vermelhos de vergonha quando, por conveniência eleitoral, fingem-se próximos de uma população com a qual não têm a menor afinidade. O governante, no caso, é a presidente Dilma Rousseff; e a população, o povo de Minas Gerais.
Digo isso por causa das recentes manchetes da imprensa que dão conta de que, nos próximos 30 dias, a chefe do Executivo desembarcará em território mineiro em pelo menos três ocasiões: para fazer inaugurações de obras atrasadas em Patos de Minas, para lançar um programa repetitivo em São João Del Rei e para receber homenagens imerecidas em Belo Horizonte.
Diante de tamanha exposição em Minas, pergunto-me: por que Dilma Rousseff, depois de quase três anos de descaso, volta-se agora para nossas montanhas?
Dilma não é mineira, embora o diga e repita a cada dois anos para fazer campanha eleitoral. Dilma não é mineira, não por ter deixado as Alterosas para construir a vida em outras bandas – como muitos de nós fizemos –, mas, porque em todas as oportunidades que teve para beneficiar o Estado, não o fez.
Aqui não citarei as a paralisia das intervenções na BR 381, as quais ela voltou a anunciar há alguns dias com pompa e circunstância. Também não me referirei ? demora na conclusão do metrô de Belo Horizonte, nem ao descaso com a saúde da maioria das pequenas cidades.
Para comprovar que Dilma destrata Minas, darei apenas dois exemplos, no âmbito do Poder Legislativo, que acompanho diariamente.
Em 2010, para garantir o apoio do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, ? eleição da ex-ministra Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, o então presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, baixou uma medida provisória que concedia incentivos financeiros ? indústria automotiva em atividade no Nordeste.
O objetivo tácito da iniciativa era permitir que a Fiat se instalasse em Pernambuco – fatura cobrada por Campos pela lealdade de sua legenda ao PT.
Quando da tramitação da MP, a bancada mineira, sob patrocínio do senador Aécio Neves, incluiu no texto uma emenda que estendia os benefícios também ? área mineira da Sudene – proposição absolutamente justa, uma vez que os municípios do norte de Minas guardam semelhanças socioeconômicas com a região Nordeste.
E o que fez Dilma na ocasião? Vetou a mudança.
Da mesma forma, a petista não hesitou em rejeitar a emenda que modificava a base de cálculo da CFEM – os chamados “royalties minerais”. O dispositivo renderia R$ 300 milhões anuais ao Estado, porém, também não passou pela chancela presidencial – que preferiu atender as empresas do setor.
Tendo em vista todos esses fatos, não me arrisco a outra conclusão:
Dilma pode até falar que é mineira, pode até impostar um sotaque desajeitado quando discursa em nossos palanques. Todavia, o povo mineiro não é bobo; e, por não perder trem, sabe que a condução, depois de longos períodos ausente, quando chega, passa lotada e sem condições de oferecer os melhores serviços.
(Imagem: Arte Figuras)
16.08.2013