Matéria publicada pelo
jornal O Tempo, em 25 de setembro de 2011 A base aliada da presidente Dilma Rousseff ainda está longe de um consenso sobre as diretrizes da proposta de reforma política a ser encaminhada ao Congresso no mês que vem. A respeito de um ponto específico, os partidos que apoiam o Planalto estão praticamente certos: as campanhas eleitorais devem ser pagas com dinheiro do orçamento da União. Mesmo assim, o financiamento público é um assunto polêmico e não terá tramitação fácil. Senadores pretendem fazer com que o texto, aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em 24 de agosto, retorne ao plenário. Na Câmara dos Deputados, o projeto também deve enfrentar resistência. A tese é encarada com duas leituras opostas. Para os defensores, o financiamento estritamente público resultaria na redução da corrupção e, para quem é contrário, ele permitiria o aumento do uso de caixa dois nas campanhas. Com a proposta, o que se busca é proibir as doações de pessoas físicas e empresas. Assim, na avaliação dos defensores da tese, seria menor o risco de "contaminação" na relação entre os doadores e eleitos, como ocorre hoje. "O financiamento público vai trazer mais transparência e mais segurança para a gestão pública e mais estabilidade e independência para o governo", defendeu o deputado Henrique Fontana (PT), na última quarta-feira, ao deixar o encontro com lideranças aliadas. O petista é o relator da matéria na Câmara. Divisão. Em linhas gerais, o tema divide a base e a oposição em Brasília. O PT é o principal defensor da mudança e vem conseguindo, com o patrocínio do ex-presidente Lula, que outras siglas aliadas, como PMDB, PDT, PCdoB e PSB, fechem questão pelo repasse público. Já o deputado federal mineiro Paulo Abi-Ackel (PSDB) afirma que não há opinião fechada nem mesmo na oposição. Até por conta disso, ele não acredita em aprovação sem sobressaltos. "Nós vamos encaminhar a votação contra esse tipo de financiamento. Ele só colabora com quem já tem recurso pessoal", diz. O diretor da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, também vê com suspeita os supostos benefícios do financiamento público. Para ele, a participação das empresas no processo eleitoral seria impossível de se suprimir e, com a proibição dos repasses privados, a prática de caixa dois seria impulsionada. "Não há como eliminar o interesse de candidatos eleitos e o interesse de empresas em influenciar as eleições", ressalta. Tramitação Senado. A votação na CCJ do projeto 268/11, de autoria de um grupo de senadores, foi confusa. Houve questionamento sobre o resultado e, após consulta das notas taquigráficas, verificou-se aprovação por 10 votos a 9.