Decorridos quase 30 dias da tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, e pouquíssimas declarações depois, as empresas Samarco, Vale e BHP Billington, ainda deixam a desejar nas ações e explicações sobre a causa da tragédia que vitimou 11 pessoas, com 10 desaparecidas, uma destruição de 15 km quadrados no subdistrito de Bento Rodrigues, um rastro de lama que dizimou o Rio Doce e milhares de espécies de fauna e flora, em sua calha até o mar no Estado do Espírito Santo.
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300 anos de história e a história de muitas famílias foram arrastadas pelos rejeitos de minério, uma mistura de metais, areia e barro, que agora se compacta e sedimenta, sepultando a vida que ali era latente e transformando o local num deserto criado pela mão humana. Diante da tragédia se ouve o silêncio completo da natureza como que num lamento doído e profundo por tudo que se perdeu.
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A Samarco, a Vale e a BHP Billington, podem tentar, mas jamais conseguirão devolver a Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e as demais localidades e cidades atingidas pela lama o que lhes era mais caro: a dignidade de um lugar para chamar de seu, a certeza do local de sua origem, as raízes de seus antepassados e de sua memória.
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O que o dinheiro poderá pagar? O dinheiro reconstruirá um rio? Mas é o dinheiro que deve repor os bens materiais perdidos. Neste instante em que todos procuram voltar a uma vida normal, os atingidos se perguntam: “Mas o que foi que aconteceu?”. Não há explicações. As respostas a esta pergunta se resumem a um amontoado de suposições: tremor de terra, excesso de volume de rejeito, o alteamento da barragem, cálculos inexatos?
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Não há, ainda, por parte das empresas e dos especialistas, nem uma hipótese provável? Como é possível diante da quantidade de profissionais envolvidos desde o primeiro instante em que ali se resolveu minerar? Quando para ali se pediram licenças ambientais, se previram investimentos bilionários, e onde cerca de seis mil pessoas entre empregos diretos e indiretos envolviam o seu dia-a-dia, como sua fonte de renda e trabalho, não se previu um acidente e como atuar com soluções e respostas?
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Neste instante em que não há respostas, temos que fazer as perguntas. Ninguém previu que as barragens poderiam se romper? Não se levou em consideração que logo abaixo de três barragens havia cerca de 600 pessoas? E os planos de emergência para salvar pessoas e animais caso acontecesse um imprevisto natural? Quase 30 dias após ainda não há respostas e todos continuam meio que letárgicos em busca das explicações, dizendo que tudo foi feito e tudo está sendo atendido.
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As outras represas assustam e deixam em pânico todos os que estão abaixo de suas barragens. Nem Mariana, muito menos Minas Gerais e o Brasil, nem as comunidades, os córregos, ribeirões, rios e até o mar sobreviverão a uma segunda tragédia. Ela não pode acontecer. Lembro o exemplo do Japão que na tragédia natural de um terremoto gigante e um tsunami, com cinco dias refez as suas estradas, viadutos, túneis, colocando os trens e o país na rota do dia-a-dia e da esperança pelo futuro. Ainda há gente sem luz nas comunidades atingidas.
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A maior tragédia ambiental do país demorou oito dias para movimentar a presidente da República. Os órgãos ambientais não vieram a público. Não trouxeram explicações satisfatórias e na medida em que se remexe no histórico do empreendimento, aponta-se uma falha aqui e outra ali, mesmo a empresa garantindo que auditorias independentes sempre analisaram suas atitudes e planejamento, aprovando suas ações. Neste momento, qual a palavra das auditorias independentes que ali colocaram o seu aval?
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Para o mundo, ficou parecendo que tragédia no Brasil depende dos voluntários que arregaçaram as mangas e até hoje continuam fazendo a sua parte com doações de itens os mais diversos e do próprio bolso levando com sua presença atenção e carinho para quem se sentiu abandonado em sua própria terra, destacando a atuação exemplar da população de Mariana, da sua prefeitura, do Corpo de Bombeiros e de sua gente.
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Querida na comunidade, a Samarco esqueceu que a sua lama e a da Vale estavam percorrendo o Rio Doce, devastando vidas ligadas ao maior símbolo de sua continuidade na face da terra: a água. O alimento vital que faltou da menor torneira até chegar ? s populações de Governador Valadares, Colatina e Linhares, os maiores aglomerados de contingente humano em seu trajeto.
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Catatônicos diante do imponderável e imprevisto, as empresas se limitam ao obrigatório e milhares de pessoas ficaram sem a água, sem seu ganha pão - desde o minerador, ao pescador, o produtor rural, aos empreendimentos turísticos, até centrais elétricas e indústrias do porte de uma Cenibra. Prejuízos incalculáveis para todos e muita incerteza. Terão que aguardar pela Justiça?
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Uma empresa com inserção “exemplar” em seu ambiente de mineração, querida pela população local, por seus colaboradores e empregados, deixa a desejar. A sirene não soou naquele dia e ainda não ecoa avisando que é urgente uma resposta, é urgente uma ação invasiva, é urgente uma explicação, uma mão ? palmatória, um pedido de desculpas ? sociedade e ao mundo. A lama foi bater no mar e lembrando Violeta Parra - “ao trabajo muchos non volveron”!
Paulo Abi-Ackel
Deputado Federal
PSDB-MG
AI em 02 12 2015