Senhor Presidente Senhoras e Senhores deputados Entre os problemas que ocupam a atenção do governo federal não vejo infelizmente incluída a questão do café, produto cujo emprego de mão de obra é dos mais relevantes e cujos rendimentos têm peso reconhecido como importante na balança comercial. A produção cafeeira é fruto de uma dedicação tradicional. Historicamente, as regiões que se dedicam ao cultivo do produto, experimentam variações de preço altamente danosas ? capitalização dos cafeicultores, com reflexos permiciosos na produção. A insegurança resultante dessa variação de preços onera gravemente o produtor: leva-o a contrair dívidas para o custeio das lavouras, sem a segurança do preço compatível com os ônus assumidos. Por outro lado deve ser assinalado a liberdade extrema dos exportadores, que monopolizam as aquisições das safras, manipulam, muitas vezes em proveito próprio, a qualidade do café adquirido e acabam por ditar ao setor produtivo preços sabidamente inferiores aos do mercado. Apesar dessas imensas dificuldades, o café brasileiro rompeu barreiras referentes ? excelência da qualidade e compete hoje, em qualquer mercado europeu ou norte-americano, com produtos tradicionalmente considerados como preferenciais por sua qualidade. Essa constante melhoria do produto deve-se exclusivamente ao esforço do cafeicultor brasileiro, ciente da crescente rivalidade existente no mercado internacional. Principalmente em municípios do leste mineiro dedicados exclusivamente ? lavoura cafeeira, imensos capitais vêm sendo investidos nas diversas fases da produção e do preparo do café para exportação. Desenvolveu-se naqueles municípios, ao longo de um século de permanente dedicação ao cultivo do café, uma cultura dotada de características próprias marcada, sobretudo pelo apuro da qualidade e pela crescente circulação da riqueza. O governo federal poderia prestar aos cafeicultores o relevante e inadiável serviço de atentar com rigor para a política de preços dos adubos. Este é um capítulo da produção cafeeira que não comporta compreensão, pela injustiça que envolve. Dizia-se antes que o preço do adubo era alto porque alto era o preço do dólar. O dólar caiu e surpreendentemente o preço do adubo continuou a subir. Numa ligeira comparação entre o preço do café e o do adubo, demonstra que a cada ano são necessários maiores quantidades de café para aquisição de adubo. As diferenças são escandalosas, tamanha a disparidade existente. Na verdade, sendo o adubo um produto controlado por multinacionais poderosas, são estas empresas que ditam no mercado internacional o preço do café. Ditam-no, é claro, no seu próprio interesse, que por sua vez se confunde com o interesse dos exportadores. Nessa equação o prejudicado é obviamente o produtor, colocado ? mercê dessa manipulação já há muitos anos consolidada e cada vez mais perniciosa. O Ministério da Agricultura já emitiu sinais de que deseja instalar no Brasil fábrica de adubos, em virtude da existência em nosso território do ingrediente natural necessário. Tudo indica, porém, que se trata de uma vontade ainda sem braços. O que o governo faz, na verdade, é simplesmente assistir a esse jogo de interesse de grupos econômicos de influencia mundial, em constante esforço de especulação em proveito próprio e em prejuízo do setor produtivo. As agências do governo não parecem atentas ao esforço constante do cafeicultor mineiro no sentido de tornar competitivo o seu produto com marcas da melhor procedência internacional. Esse esforço constante demandou e demanda custos operacionais significativos, que reduzem ainda mais sua pequena margem de lucros. Neste momento de crise financeira internacional a desatenção do governo ? alta dos preços dos adubos pode comprometer a fonte de aquisição de dívidas que o café significa e que tende a crescer se resolvido de maneira adequada esse ônus comprometedor de seus rendimentos. Os que se situam ? margem das regiões cafeeiras de Minas não fazem idéia, sequer aproximada, do vulto dos investimentos, dos custos da produção e, sobretudo, do vasto emprego de mão de obra envolvidos nessa produção. Trata-se de um setor que envolve imensos capitais com uma especial característica de distribuição de seus resultados financeiros por uma vasta rede de atividades afins. Todos sabemos que as atividades econômicas estão naturalmente sujeitas ? competição e que o êxito em qualquer delas não pode mais decorrer de privilégios fiscais ou reservas de mercado. A negociação do café não deve nem pode fugir a essa regra, mas é necessário reconhecer que sobre ela pesa a mão de ferro do controle da produção e do preço, através, principalmente, da manipulação do preço do adubo. È para isso que deve atentar o governo, através das agências do Ministério da Agricultura. Há recente exemplo de como os países do primeiro mundo protegem seus agricultores através da política de subsídios. Nas rodadas Doha, da qual participaram nações de todo o mundo, o Brasil tentou inutilmente abrir as fronteiras dos grandes consumidores para seus produtos, em igualdade de condições com os produtos nativos. As portas lhe foram fechadas. A política agrícola dos países do primeiro mundo é a de manter seus produtos fora de competição com produtos estrangeiros. Embora o café brasileiro não encontre dificuldades no mercado internacional e circule com facilidade entre as mais diversas fronteiras, é justo dizer que o governo brasileiro não se preocupa em adotar políticas de proteção de seus preços mínimos ou de subsídio que minore os gastos abusivos dos adubos e defensivos. No Sul de Minas e particularmente na cidade de Manhuaçu, no leste do Estado, têm se desenvolvido esforços para divulgar com dados precisos as dificuldades da cafeicultura e os remédios destinados a removê-las. Grande pólo de concentração e difusão do café produzido em sua região, a cidade de Manhuaçu comemora exatamente agora cento e vinte um anos de sua emancipação política e administrativa. Bem antes da emancipação era já o café a fonte principal de sua riqueza e o município de Manhuaçu o centro de irradiação de sua grande influência por toda a região. È, portanto, mais de século e meio de experiência no cultivo do café, no aperfeiçoamento dos métodos de produção, no esforço para a melhoria do produto e de extraordinários investimentos em máquinas, utensílios e equipamentos ligados ? complexa e árdua preparação do produto. Trata-se, portanto, de uma data importante para a história econômica do Brasil, e em homenagem aos bravos filhos da terra, que em todos os ramos da lida humana deixam a cada dia o exemplo de sua dedicação ao trabalho, que também me associo, de coração, ? memória dessa data, comemorando-a com esta saudação especial. Muito obrigado.
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